ventre em ebulição

Hoje eu troquei o jogo por um bom livro e não me arrependi... E olha que o livro nem foi tão bom. De cama, com a rinite e a sinusite ainda atacados, eu deixei de ver a Copa pra aproveitar o momento pra ficar quentinha de baixo dos cobertores colocando a leitura em dia. Alguns livros estão na me estante a anos aguardando impacientemente na fila pra serem lidos. É o caso de Toda Sua e Profundamente Sua da Trilogia Crossfire, de Sylvia Day, que eu ganhei de amigo secreto a uns 2 anos atrás e ainda não tinha tido a oportunidade de ler. E como hoje estava atrás de uma leitura descompromissada, escolhi pra ler o primeiro livro da série.



Eu já sabia que seria uma leitura bem parecida com 50 Tons de Cinza de E. L. James, menos a parte do sadomasoquismo. A própria Sylvia agradece E. L. por ter dado notoriedade ao gênero, demandando mais obras do mesmo estilo. Mas gente, o que eu não sabia era que a cópia era tão descarada. A base da história é praticamente a mesma, e o personagem de Gideon Cross pode ser facilmente confundido com o já conhecido Christian Grey.

A história é a seguinte. Eva Trammel tem 24 anos e acaba de se mudar para Nova York. Dividindo o apê com meu BFF bissexual Cary, a loira está pronta para começar sua nova vida na big apple com um novo emprego em uma prestigiada agência de publicidade (não muito diferente de Ana com seu novo emprego na editora em 50 Tons). Detalhes a parte, Eva acaba conhecendo no prédio onde trabalha um figurão moreno, bonito e sensual, de porte atlético e olhos azuis, o riquíssimo Gideon Cross. Assim como Grey, Gideon tem o poder sobrenatural de abrir as pernas das mulheres que por ele passam. Assim como Grey, o cara é dono do prédio, de uma academia, de um hotel, e de tudo quanto é estabelecimento comercial em Nova York. E assim como Grey, Gideon tem vários traumas infantis que fazem do partidão um desastre quando se trata de um relacionamento amoroso. Mas não, ele não é sadomasoquista, o que na minha opinião é um dos traços mais interessantes de Christian Grey.

Já a Eva é um pouco mais diferente de Ana. Ela não é virgem, pelo contrário, faz até uso de um vibrador nas entressafras, e é menos bobinha que a personagem de E. L. James (até certo ponto). Também ao contrário de Anna, Eva, assim como Gideon, tem altos traumas de infância, mas seus problemas são um pouco mais bem resolvidos do que os dele. Outra diferença é que Eva tem grana, sua família é bem abastada graças a capacidade de sua mãe de descolar maridos abonados.

Mas a trama é bem similar, pelo menos no primeiro livro da série. Eva fica babando pelo gostosão, que a princípio só quer comê-la, mas como ela faz cu doce, o cara fica interessado e depois decide que por ela vai tentar ser mais normalzinho e levar adiante um relacionamento sério. Mas MEU DELS, o namoro desses dois tem mais desdobramentos caóticos do que uma novela mexicana das boas! Não sei se é porque li o livro todo de uma vez, mas fiquei exausta com tanto problema entre duas pessoas! Sério gente, to cansada emocionalmente só de imaginar um relacionamento desses, pelamor!



E o sexo? Eu ainda não consegui me decidir se as passagens pornográficas são melhores ou piores do que as de 50 Tons. Dão tesão? Até dão... Mas por mais que a cena pareça interessante, eu ainda acho a linguagem artificial demais. As vezes me pergunto se é culpa da escritora ou da tradução, por que quem usa na vida real expressões como "ventre em ebulição", "volúpia animalesca" e "investidas furiosas"? Detalhe que eu tirei as três expressão de uma mesma passagem do livro, ele está recheado com muitas outras figuras de linguagem nada naturais para adjetivar o ato sexual. Alguém consegue imaginar duas amigas conversando e uma pergunta " e aí amiga, como é que foi com o fulano ontem a noite?" e a outra responde "nossa, ele deixou o meu ventre em ebulição!". Desculpa, não dá pra mim. 

Além da linguagem que é bem distante do real, a quantidade de orgasmos também é. Gente, peralá né, a maioria das mulheres não goza 5 vezes cada vez que trepa, a maioria das mulheres tem até dificuldade de gozar com penetração! O que eu acho foda nessa ponto é que parece que esse tipo de literatura reforça ainda mais esses mitos, de que uma mulher que realmente sente tesão goza milhões de vezes numa noite, e se você não é assim é porque você é uma frígida. Isso tá bem longe da realidade, anos luz! Existe sexo bom de verdade? É claro! Mas esperar que um cara vá quase te fazer gozar só com um olhar é tão real quanto acreditar que se ama alguém a primeira vista.

O que pega a atenção da mulherada é realmente o personagem masculino da trama. Quem não ficaria com um mínimo de tesão possível por um cara lindo de morrer, rico pra caralho, sacana, bem dotado, mestre na arte da sedução e, que de quebra, tem alguns problemas mau resolvidos, prato cheio pra atiçar o lado "quero consertar o bofe" que existe em cada algumas mulheres? Aí eu me pergunto: é essa a versão para maiores de 18 anos dos príncipes encantados da nossa infância? Será que estamos trocando o título real por uma fortuna descomunal e o cavalo branco por um pau enorme? É de se pensar!

Outra coisa bizarra é que toda hora que o casal briga por algum motivo, tudo se resolve na cama. Vamos a um exemplo: para o questionamento "porque é que você não me contou que já tinha sido noivo antes e que conversa todo dia com a sua ex?", qual a melhor atitude a ser tomada?

a) lava a roupa suja em público mesmo e resolve o babado na hora
b) pede pra nega não fazer a loca e segurar o fight pra quando chegarem em casa
c) come ela numa limusine

Pois é, a autora foi com a letra C. Porque, aparentemente, é somente na cama que os dois conseguem resolver os seus pepinos e acalmarem os nervos. Igualzinho na vida real...

Mas aí eu fiquei me questionando: será que o tesão vem justamente da história ser tão fantasiosa? Será que uma história mais plausível seria de fato mais erotizante? Será que eu to cobrando realidade de um negócio que é por definição feito pra explorar tramas que as leitoras não encontram em seu dia-a-dia? Eu não sei, ainda to em dúvida.

Bom, só sei que pra mim não cola, não consegui achar muita graça no livro. Só vou ler o próximo da série porque já está aqui na minha estante, e mesmo assim não pretendo ler de imediato. Pelo menos é mais um da minha meta de leitura de 2014 que eu posso riscar da lista!

Frente a esse tipo de fantasia, prefiro ficar com a minha realidade.




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