escolhas e possibilidades

Quando eu penso nos meus filmes favoritos, percebo gosto deles por motivos diferentes. Alguns estão na minha lista de top 10 por seu roteiro intrincado e diálogos fenomenais, como é o caso de Pulp Fiction, outros pela estória singular e pelo sentimentos que me desperta, como é o caso de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. E alguns entraram para o ranking pela capacidade de me fazer pensar e questionar a minha realidade, e foi exatamente o que fez o filme que assisti esse final de semana. 



Mr. Nobody é um filme do diretor belga Jaco Van Dormael de 2009 e conta a estória de Nemo Nobody, vivido por Jared Leto, um homem de 118 anos que vive na Terra e é o único humano mortal no ano de 2092. Nemo não se lembra de quem é e não existe nenhum registro de sua identidade. Após uma seção de hipnose, Nemo começa a se lembrar de partes de sua vida e relata a um jornalista acontecimentos em três épocas distintas: quando tinha nove, quinze e trinta e quatro anos.

Quando Nemo tinha nove anos, ele se viu diante de uma escolha que seria difícil para qualquer criança fazer. Após a separação de seus pais, ele teve que escolher em uma estação de trem se iria embora com a sua mãe ou se ficaria com o seu pai. A narrativa então se desmembra, mostrando diferentes possibilidades que eram criadas a partir do momento dessa decisão. Uma das versões era de que Nemo corria e conseguia alcançar o trem em que sua mãe estava, o levando a se apaixonar aos quinze anos pela filha de seu padrasto, Anna. Uma outra versão é de Nemo acabava caindo ao correr atrás do trem na estação e acabava ficando com seu pai, o que o levavam aos quinze anos a se apaixonar por Elise, ou talvez por Jean, depende. E dependendo dos desdobramentos, outros futuros foram sendo narrados pelo Nemo de 118 anos, mostrando como cada simples evento ou escolha acabavam por modificar o seu destino, criando novas oportunidades e lhe apresentando trajetórias de vida distintas.

I'm not afraid of dying. I'm afraid I haven't been alive enough. It should be written on every school room blackboard: Life is a playground - or nothing.



O roteiro é belíssimo e muito bem construído, principalmente se levarmos em consideração a teia de possíveis vidas que são tecidas a frente do protagonista. E ele também aborda a questão sobre as dimensões de espaço e tempo que existem no universo, originalmente criadas pelo Big Bang. No filme ele fala sobre a entropia, uma grandeza termodinâmica que mede o grau de irreversibilidade de um sistema e leva sempre no sentido da desordem. O que ele questiona no filme é: e se a força do Big Bang fosse finalmente vencida pela gravidade, será que voltaríamos no tempo, dando chance para que as coisas em desordem pudessem de alguma forma serem consertadas? Não esquecendo que eu sou completamente leiga em Física e isso foi apenas o que consegui captar do filme.

Além do roteiro, a fotografia do filme e sua estética são muito peculiares. Uma das cenas mais lindas é quando Nemo e Anna estão no apartamento de seus pais e começam a se beijar na cozinha. Em uma das transições, os dois estão se beijando encostados em uma parede e começam a rolar por ela, e enquanto eles rolam a cena passa para a cama no quarto de Anna, como se a estampa do papel de parede de repente se transformasse nos lençóis.


Os atores que interpretam cada um dos personagens em suas três idades também foram muito bem escolhidos. É o tipo de filme em que você realmente consegue sentir a emoção que o diretor queria passar, a trama te pega e te amarra naquelas estórias.

Esse filme é sobre escolhas. Mas é também sobre possibilidade e sobre como não há escolha certa ou errada, há apenas diferentes caminhos que vão nos sendo apresentados e que são a todo momento influenciados tanto por nós mesmos como por eventos distantes que num primeiro momento não tem nenhum tipo de ligação com o seu resultado. Um exemplo é quando em uma das possibilidades, Nemo reencontra Anna aos trinta e quatro anos e ela lhe dá o número de seu telefone. Para o seu azar, uma chuva repentina acaba apagando o número escrito no papel que estava em suas mãos. Nemo conta que aquele pingo de chuva caiu porque no Brasil (sim, no Brasil) um homem desempregado resolveu cozinhar um ovo ao invés de estar trabalhando, e que esse mesmo homem perdeu seu emprego porque Nemo resolveu comprar uma calça jeans mais barata do que a fabricada pela empresa do brasileiro.

Fiquei até meio passada o resto do final de semana, é aquele tipo de estória que não sai da cabeça. E eu ainda assisti a versão estendida do diretor, foram umas duas horas e meia de filme, e valeu cada segundo.
Every path is the right path. Everything could have been anything else and it would have just as much meaning. 



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