partidas e saudades

Essa semana não tá sendo fácil pra literatura brasileira... Primeiro foi João Ubaldo Ribeiro, agora foi-se Rubem Alves, deixando saudades e uma vida inteira de belíssimos textos e trabalhos. Rubem é uma daquelas pessoas que eu sinto não ter conhecido, pois devia ser um ser humano fascinante! Por ele eu terei sempre um carinho especial, pois foi uma de suas obras que mais me inspirou a ler na minha infância.


Rubem era mineiro, e durante sua vida foi psicanalista, educador, teólogo e escritor. Viveu e morreu aqui em minha cidade, tendo sido cidadão honorário de Campinas. Tem diversos trabalhos publicados: crônicas, ensaios, contos, teses, dissertações e monografias.

Quando criança, a minha família se parecia muito com a de ciganos, mudando por várias vezes de cidade. Morei 2 anos em Piracicaba quando tinha entre 5 e 6 anos. Estudei no Colégio Piracicabano na 1ª série, da qual eu guardo boas lembranças. Então meu pai foi mais uma vez transferido pra outra cidade por conta do trabalho, e eu não cheguei a terminar o ano letivo lá. Na despedida, a minha professora me deu de presente um exemplar de A Menina e o Pássaro Encantado, um livro lindo de Rubem Alves que fala de partidas e de saudade.


O livro conta a história de uma menininha que conhece um pássaro encantado lindo, com plumagens maravilhosas e coloridas. O pássaro era seu melhor amigo, e era encantado porque mesmo com a gaiola aberta, ele sempre retornava aos braços de sua fiel dona. Mas acontece que a menininha sentia muitas saudades do pássaro quando ele ia embora, e por isso ela decidiu prendê-lo na gaiola, pra que ele assim ficasse sempre perto dela. Mas na gaiola o pássaro adoeceu, suas plumas se transformaram em penas cinzentas e sem graça, e com o tempo ele deixou de cantar e contar suas estórias. Percebendo o grande engano, a menina por fim liberta o pássaro e deixa que ele seja livre novamente, pra ir e vir, fazendo com que o amor crescesse junto com a saudade.
Esta estória, eu não a inventei. Fiquei triste vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida... E a estória simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta. Pra quê uma estória? Quem não compreende pensa que é pra divertir. Mas não é isto. É que elas têm o poder de transfigurar o cotidiano. Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isso angústias e medos ficam mais mansos. Claro que são para crianças. Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão...
A estória parece boba pra ouvidos adultos, mas é uma metáfora simples e singela pra se contar para uma criança. Esse é com certeza o livro que eu mais li na vida, me ensinou a ter gosto tanto pela leitura quando pela liberdade. Tamanho é o carinho que eu tenho pela estória que eu tenho tatuada essa gaiola, mas com a portinhola aberta e dois pássaros voando em volta.


Obrigada Rubem Alves, pela importância da sua obra na minha infância, tenho certeza de que não fui a única a ter sido influenciada pelas suas sábias palavras.


Um comentário

  1. Esse livro também marcou minha infância! Procurei em vários sebos pra comprar pra ler pra minha sobrinha e mostrar as ilustrações lindíssimas, mas não encontrei mais nenhum exemplar. Cuide bem do seu! :)

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