Meu corpo é meu


Uns tempos atrás, a cantora Pitty escreveu em seu blog um texto sobre a cantora Anitta. Ela falava sobre o fato de Anitta estar fazendo covers de suas músicas em seus shows e de como era legal alguém de um gênero de música tão diferente estar reinterpretando suas canções. Pitty também se mostrou preocupada com a reação de alguns fãs, que ao comentar sobre o fato da cantora estar fazendo cover seus, também comentavam de forma pejorativa sobre a forma como Anitta mostrava o seu corpo. E Pitty foi clara em sua opinião que repercutiu internet a fora: seu corpo é seu.

Assim como Pitty eu também sou da opinião de cada pessoa é dona de seu próprio corpo e por essa razão tem o direto de fazer com ele o que bem entender. Por isso não julgo nem as freiras que decidem resguardar seu corpo de qualquer desejo carnal, da mesma forma que não julgo prostitutas por usarem seu corpo como ganha pão. Pois bem, se o meu corpo é meu e somente eu tenho o direito de decidir o que fazer com ele, também não tenho o direito de decidir como o meu corpo é?

Vivemos uma cultura banhada ao culto à magreza e à longevidade. Como mulher, recebo uma enxurrada diária de informações em revistas especializadas, blogs pseudo-especializados e publicações diversas a cerca de parâmetros nada realísticos em relação ao formato de um corpo ideal. São bloguetes metidas a personal trainer e nutricionistas, é a Corpo a Corpo e a Boa Forma, são as "publicações sugeridas" do Facebook que me juram que por trás do link está o segredo da dieta da Sabrina Sato destinada a mulheres com mais de 30 anos e as notícias que se dizem a favor da saúde pública (que quase sempre são pouco úteis).

Há algumas semanas vi também pelo Facebook uma foto circulando de uma mãe sarada com 3 filhos pequenos, exibindo com orgulho o seu abdômen tanquinho, com a seguinte frase: "What is your excuse" que em português significa "Qual a sua desculpa". A bonitona da foto é Maria Kang. Esposa, mãe e escritora, ela iniciou um blog em 2005 após se recuperar de um transtorno alimentar.



Bom, meus parabéns Maria. Se você consegue trabalhar 8 horas por dia, cuidar de três crianças com menos de 5 anos sem ajuda, cuidar de uma casa e ainda dar assistência pro maridão, good for you. O que me indignou, e imagino que tenha indignado outras pessoas nas redes sociais, não é o fato dela ter um corpo lindo mesmo depois de passar por três gravidezes, mas sim a frase. Quer dizer então que eu preciso de uma desculpa pra não ter um corpo malhado? Quer dizer que todo mundo é obrigado a passar horas na academia mesmo que tendo outras coisas como prioridade? Em resposta a pergunta de Maria, algumas mães com corpos mais realistas postaram fotos com suas respostas.



Essa mãe (que eu não sei o nome e nem de onde é) publicou essa foto em que exibe, assim como Maria, seus 3 filhos pequenos e seu corpo. Na foto, a moça parece bem contente com seus 3 pequeninos e exibe um corpo bem diferente do de Maria, mas muito mais similar ao de outras mães que passaram por 3 gravidezes recentes. Sua barriga um pouco flácida e fora dos padrões atuais de beleza não é motivo pra vergonha, e em resposta, a moça escreveu "minha desculpa é que eu estou bem com isso".

Eu não vejo problema nenhum em uma pessoa ter como prioridade o seu corpo e assim ter uma alimentação saudável e se manter em forma. Mas porque é que a pessoa acha que todo mundo tem que ter o corpo igual ao seu? Cada pessoa tem a sua história de vida, os seus problemas, as suas força, as suas prioridades e suas dificuldades. Mas de repente estar a cima do peso virou uma espécie de ofensa, como se fosse um absurdo pesar mais do que uma modelo de passarela ou ter uma barriga mais saliente.

Outra foto que andou circulando por aí nos últimos dias foi a de Taryn Brumfitt, que postou uma comparação de seu corpo antes e depois da gravidez, ironizando as fotos de antes e depois que as pessoas postam mostrando o resultado de alguma dieta do momento.



Em uma reportagem, Taryn disse que após a gravidez, ela queria seu corpo esbelto de volta e pensou até mesmo em fazer cirurgia plástica. Mas no último minuto desistiu, porque ficou imaginando que tipo de mensagem ela passaria para sua filha sobre a forma como enxerga seu corpo.

Outra pessoa pra quem eu paguei um pau foi Emma Haslam, que se apresentou no programa "Britain's Got Talent" para mostrar as pessoas que pole dancing pode ser feito por qualquer um, com qualquer tipo de corpo. Ela claramente não tem o corpo de uma aleta, mas não faz feio o pole dancing não! Ela dá um show, não só no pole, mas também de autoestima e de coragem ao desafiar os padrões estabelecidos pela mídia.


Ver essas pessoas que aceitam o seu corpo me ajuda a aceitar não só o meu próprio corpo, mas também aceitar o que as outras pessoas querem pra si mesma e saber separar o que é pertinente a mim do que o que é pertinente aos outros. O que eu vejo faltar na sociedade como um todo é um pouco de tolerância com as diferenças, de aceitação da realidade do outro e de empatia pra se colocar no lugar de outras pessoas. Todo mundo tem opinião para dar sobre tudo e, como isso, acabam prestando mais atenção a vida alheia do que a sua própria condição.

O meu corpo é meu, o seu corpo é seu, e ninguém tem nada a ver com isso.




4 comentários

  1. Concordo com você, falta tolerância! Muito bom o seu post.
    Abraço!
    Gisele

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  2. Ju, às vezes ainda tenho uma certa dificuldade em compreender como o outro se enxerga - e quer ser enxergado - em sociedade. Vamos lá. Você citou as freiras e eu cito o uso da burca, que, mais do que por razões religiosas, é utilizada para que o homem não cometa pecado, para que ele não sinta o instinto de ceder a uma mulher, a sua beleza. Absurdo né? Nem todo mundo é completamente feliz com essa imposição. Cobrir o corpo com uma burca ou com um hábito é uma imposição social de um determinado meio.

    Muitas das pessoas que conheço ou que vejo diariamente que cultuam o corpo o fazem para MOSTRAR esse corpo a outras pessoas. Perceba. Quem vai para a academia todos os dias sempre tende a mostrar esse resultado para um grande número de pessoas, mesmo para quem não tem o menor interesse nisso. Mais do que a era ao culto do próprio corpo, vivemos o tempo em que queremos ser o centro das atenções, que gire o mundo ao nosso redor. Quanta mais sarada a barriga, mais likes na rede social, entende?

    Sempre fui muito magra e era motivo de piada por conta disso. Na adolescência, fiz de tudo para "ganhar corpo". Para quê? Para que os outros vissem que "eu venci" e é essa a imagem que muitas (não todas) as pessoas saradas vendem. Por isso, a minha desculpa é: hoje me aceito como sou. E ainda bem. Malhação? Só o cérebro mesmo. Não desmereço quem cuida da saúde, claro Eu mesma me puno, às vezes, por não fazer isso.

    Texto maravilhoso. Abraços!

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    1. Realmente Nina, me parece que a cada dia mais as redes sociais viraram uma grande vitrine de auto-promoção. E concordo quando você diz que além de cultuar o corpo, o fazem pra se mostrar a outra pessoas e ganhar likes. É um ciclo vicioso onde a vítima dos padrões se torna a opressora e assim por diante.
      Eu tb já fui muito magra e motivo de piadas, e hoje estou acima do peso, então conheço bem os dois extremos da coisa. Confesso que ainda estou trabalhando nesse processo de aceitação do meu corpo, mas hoje pelo menos tenho uma consciência muito maior em relação a como esses padrões influenciam a minha auto-imagem.
      Nina, obrigada por passar pelo blog e comentar o post :)

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