o livro é sempre melhor que o filme?

Muitos leitores estão esperando ansiosamente pelo filme "A culpa é das estrelas", baseado no livro homônimo de John Green. Eu mesma ainda não li o livro, mas como qualquer pessoa que tem Facebook eu sei spoilers suficientes pra saber que eu preciso estar em um estado de espírito muito específico pra ter vontade de ler uma obra como essa. Mas a questão não é a qualidade do livro, e sim o eterno dilema da comparação entre livro e filme. Será que o filme é mesmo sempre pior do que o livro?


Há algumas questões que devem ser levadas em consideração na hora de comparar livro com filme, devido a especificidades técnicas que cada veículo possui. Por exemplo, enquanto em um livro o autor pode passar páginas e mais páginas apenas ambientando o leitor, contando como era a renda da colcha que estava em cima da cama, ou como o sol batia naquela pétala de flor lilás, em filmes não tem como fazer o mesmo. É praticamente impossível reproduzir a mesma riqueza de detalhes de um livro em 2 horas de filmagem. O filme tem um ritmo diferentes, um andamento que não funciona em livros. Por isso que eu entendo certas escolhas que os diretores fazem quando alteram o que nós leitores muitas vezes consideramos partes importantes de livros: é porque a história as vezes precisa ser contada de outra forma pra funcionar.

Eu resolvi então falar de 5 livros que viraram filme e como foi a minha experiência com os dois formatos da obra:

1. Água para elefantes - livro de Sara Gruen e filme de Frances Lawrence


Esse eu li primeiro o livro e depois o filme, logo em seguida. Eu simplesmente me apaixonei pelo livro, foi amor a primeiras páginas. A história, que é praticamente um triângulo amoroso entre Jacob, Marlena e a a elefanta Rosie, é contada de maneira doce e nostálgica por um Jacob já velhinho, relembrando a época que se juntou ao circo. Fiquei louca pra assistir o filme (adoro a Reese Whiterspoon e o Chistoph Waltz) e heis que foi uma decepção gigantesca! O filme simplesmente não faz jus a história do livro. Eu senti como se partes significativas da história original tivessem sido alteradas sem nenhuma razão plausível. E a personagem de Marlena foi o que mais me decepcionou, a maneira como ela foi retratada no filme não era em nada como eu a imaginei enquanto lia o livro. Sério, fiquei arrasada, mesmo com todos os descontos que eu dou para adaptações do gênero. Esperava muito mais.

2. O lado bom da vida - livro de Matthew Quick e filme de David O. Russell


Esse foi um daqueles livros que eu matei em uma madrugada, sem esforço. Adorei o livro, que conta a história de Pat Solitano, um cara bipolar que tem vários sentimentos mal resolvidos em relação a sua ex-mulher, e fala sobre a adaptação a sua nova vida após um período internado em um hospital psiquiátrico. Assisti o filme algumas semanas após ter lido o livro e fiquei extremamente surpresa, e não de uma maneira ruim. Nesse caso, o filme é extremamente diferente do livro. Mas apesar de ser tão diferente, foi contado de uma maneira que na minha opinião funcionou. Eu gostei da história do livro, e gostei também da história do filme. Entre uma das maiores diferenças está a personagem de Tiffany, que tem uma relevância muito maior no filme do que no livro (Jennifer Lawrence e seu Oscar agradecem). Só sei que no final eu não me senti decepcionada, me senti surpresa com uma história que eu não estava esperando, tendo lido o livro.

3. Anjos e demônios - livro de Dan Brown e filme de Ron Howard


Essa foi a segunda obra de Dan Brown que eu li (claro, o primeiro foi O Código Da Vinci). A diferença é que o filme foi lançados anos depois de eu ter lido o livro, então eu já não me lembrava mais de cada detalhe da história. O livro eu achei tão bom quanto (se não melhor do que) o Código Da Vinci. Dan Brown enche a história de detalhes e embasamento histórico, é uma característica que eu gosto nas obras dele. No filme, muitos detalhes foram também modificados, mas eu ouso dizer que achei que a história ficou mais coesa com algumas dessas modificações. No livro, Robert Langdon é praticamente imortal, enquanto que no filme alguns exageros foram minimizados. Só vejo uma falha no filme: nos livros do Dan Brown, uma das graças da leitura é ficar imaginando quem dos personagens na realidade é o vilão da história. E nessa história específica, o vilão é um personagem sem muita importância no começo da história. Acontece que no filme colocaram um ator famoso demais pra esse papel, então se eu não tivesse lido o livro eu teria me perguntado "mas porque o fulano tá fazendo um papel tão irrelevante?", e ai eu já teria matado a charada, o que na minha opinião compromete a experiência do filme. Mas fora isso, não tive muitos problemas com a produção cinematográfica.

4. Comer Rezar Amar - livro de Elizabeth Gilbert e filme de Ryan Murphy


Esse eu fiz o caminho contrário: primeiro o filme e depois o livro. Fui assistir ao filme no cinema com uma amiga da faculdade, sem esperar muita coisa. E fiquei louca com o filme! Louca com a Itália e toda aquela comida maravilhosa que a Julia Roberts come, louca com as paisagens, com as viagens, simplesmente enlouquecida! Saí da sala do cinema pronta pra fazer as malas e me aventurar como Liz Gilbert fez (até eu lembrar que eu não tinha dinheiro e nem uma editora pra bancar a minha loucura). E por ter gostado tanto do filme, eu fui atrás do livro. Li em inglês, um daqueles pocket books, em menos de uma semana. O que mais me impressionou era saber que aquela era realmente a história de alguém, e não simples ficção. Saber que uma pessoa de verdade largou tudo pra trás pra viver aquela aventura da alma, despertou em mim um pouco mais do meu lado aventureiro e imprevisível, capaz de correr atrás daquilo que eu quero. E me surpreendi com o livro também. A história tem também muitas diferenças entre o livro e o filme, mas foi um daqueles filmes em que eu entendi as mudanças que foram feitas e entendi que pra um filme aquela era a melhor história a ser contadas. A maior diferença que eu senti foi que o fundo do posso da Liz do livro era bem mais fundo do que o do poço da Liz do filme. O começo do livro é bem mais bad do que parece ser no cinema.

5. O guia do mochileiro das galáxias - livro de Douglas Adams e filme de Garth Jennings


Esse é um caso totalmente diferente dos demais, porque a história não foi contada somente através dos livros e do filme. A série de ficção científica criada por Douglas Adams teve seu início nas rádios em 1978, passando depois por livro, série de TV, jogo de computador, quadrinhos e finalmente, em 2005, pelo cinema. Eu conheci os livros através do meu namorado, que por sua vez chegou a ver o filme no cinema acompanhado de sua toalha (quem já leu vai entender). São 5 livros e eu até hoje só li 4 porque ainda não achei o quinto cpm a mesma capa dos outros quatro que eu tenho (TOC, eu sei). A questão aqui é que apesar do filme diferir, e muito, do livro, todas essas diferenças foram acrescentadas pelo próprio Douglas Adams, o que me deixa muito mais confortável. A questão é que o cara contou essa histórias através de diversos veículos, e ele soube muito bem como adaptar o enredo de diferentes formas. Muitos acontecimentos e personagens foram modificados, mas a essência se manteve a mesma. O livro e o filme (e todos os demais formatos) contam a história de Arthur Dent, um cara que acorda um dia e descobre que sua casa vai ser demolida, e depois descobre que seu melhor amigo é um extraterrestre, e depois descobre que a Terra vai ser destruída. E então o confuso Arthur, vivido no filme por Simon Jones, se vê sem muita escolha, a não ser seguir seu amigo ET Ford Prefect em o que seria uma aventura como mochileiro pelas galáxias. Ambos livro e filme são excelentes, e refletem toda a genialidade de seu autor.

Eu gosto de acreditar que eu fiz as pazes com esse dilema. Eu aprendi a aceitar o filme como uma obra independente, sem muitas expectativas em relação ao livro. Mas eu sei, há vezes em que se apaixona-se tanto por um livro que é difícil não começar a ver o filme com algumas pedras na mão.

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