A minha vida e a de Walter

Há filmes que de alguma foma nos comovem, e esse foi dos filmes que me deixou pensando mesmo depois de horas de tê-lo assistido.


Eu sou chata pra assistir comédias, acho que o meu senso de humor não é compatível com os filmes estrelados por alguns atores como Adam Sandler, Eddy Murphy e Rob Schneider. Mas se tem um ator que eu não suporto porque sempre me causa uma sensação de vergonha alheia imensa com os seus papéis, é o Ben Stiller. Sério, eu não consigo gostar de um filme sequer que esse cara faz (mentira, eu gostei de Dodgeball, mas só por causa do Vince Vaughn), mas ele se redimiu completamente com "A Vida Secreta de Walter Mitty".

Meu namorado levou um tempo pra me convencer a dar uma chance pro Ben, porque o review do filme parecia interessante, e o trailer mostrava que era uma produção legal. Pois bem, dei uma chance e não me arrependi. Ben Stiller deveria fazer mais filmes desse tipo... E além de atuar como protagonista, ele é também o diretor. O filme tinha tudo pra que eu não gostasse dele (incluindo a Kristen Wiig, que normalmente me causa tanta vergonha alheia quanto ele, tive que parar "Missão Madrinha de Casamento" no meio de tanto desconforto que me causou) mas amei a história. Talvez seja o fato de não ser uma comédia óbvia como as tantas que Ben Stiller faz.

Pois bem. O filme conta a história de Walter, um cara fechadão que trabalha em uma revista que está prestes a fechar as portas e se transformar em uma revista online. Walter tinha planos de viajar e conhecer o mundo em sua adolescência, mas após a morte repentina de seu pai, ele teve que deixar seus planos de lado e arrumar um emprego estável pra sustentar a mãe a irmã. Walter é o tipo de cara que acorda todo dia no mesmo horário, segue uma rotina imutável a risca todo santo dia e não se permite correr riscos. E pela sua vida real ser tão banal e sem graça, Walter as vezes tem devaneios, onde ele vai pra uma outra realidade em que ele vive aventuras e faz todas coisas que ele não tem coragem de fazer normalmente.

No trabalho não é diferente. Walter Mitty está na mesma posição há anos, como responsável pelos negativos das fotos da revista e por ser a principal conexão do fotógrafo que é o cara foda da publicação, Sean O'Connell, vivido no filme por Sean Penn. Para a última edição da revista, Sean manda a Walter os negativos das últimas fotos que tirou em suas viagens com uma carta, dizendo a Walter que a foto número 25 era a melhor que foto que já havia tirado, a quintessência da vida. Após ler a carta, Walter pega os negativos para ver a tão importante imagem... E percebe que a foto não está lá. Desesperado, ele a procura por todos os lados e não acha em absolutamente lugar nenhum. Com a ajuda de Cheryl - personagem de Kristen por quem Walter é apaixonado - ele percebe que a única coisa a ser feita é ir atrás de Sean pra achar o negativo, afinal de contas todos na revista estão aguardando ansiosamente pela imagem que aparecerá na capa de sua última versão impressa. O único problema é que Sean, como fotógrafo, é uma pessoa muito difícil de ser encontrada, e como pistas de seu paradeiro Walter tem apenas as fotografias que acompanhavam a foto desaparecida.

E é aí que o filme realmente começa. O personagem de Ben se vê obrigado a sair de sua zona de conforto e se aventurar de uma maneira que até então só tinha acontecido em seus devaneios. E as coisas que ele tem que fazer e os lugares onde ele tem de ir para alcançar seu objetivo são fantásticas! Vou parar por aqui pra evitar spoilers, mas é delicioso ver um cara tão quadradinho como Walter se colocando em situações inimagináveis e divertidas, e mudando a maneira como leva a vida.


Esse filme é provavelmente uma metáfora que se encaixa na vida da maioria das pessoas, que assim como eu muitas vezes deixam de lado a busca por objetivos que parecem grandes e distantes demais pra se encaixar em nossa realidade. Que jogue a primeira pedra quem nunca deixou passar uma oportunidade de correr atrás de um sonho pra não colocar em jogo a realidade segura e conveniente (se você acha que isso nunca lhe ocorreu, provavelmente ainda ocorrerá). Não se pode correr riscos a todo momento, mas acredito as vezes dá pra se deixar levar e se aventurar em busca daquilo que realmente queremos.

As vezes me sinto meio Walter, meio dentro de uma realidade que não é a ideal, meio longe de quem eu gostaria de ser. E quando me dá muita saudade dessa pessoa que eu quero ser, eu venho até aqui e escrevo. Escrever me deixa mais próxima desse eu ideal, me faz sentir mais perto da melhor versão de mim mesma.

Acho que assim como Walter, eu to precisando achar a quintessência da minha vida, aquela coisa capaz de me mover com garra na direção de quem eu quero ser.



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