Amizades Sem Conveniência


Amizade são esses vínculos loucos de cumplicidade e companheirismo que vamos criando ao longo da vida, que nascem muitas vezes da convivência com aqueles que nos acompanham no dia a dia e passam mais tempo ao nosso lado do que nossos pais. Mas esse dia a dia não é eternamente o mesmo, mudamos de emprego, de cidade, até de continente. E existe algo que faz que muitas dessas amizades permaneçam vivas, mesmo sem a tal da convivência, e que outras acabem por se desfazer ao longo do tempo. Sempre me perguntei o que determina isso...

Ao longo dos meus míseros 26 anos, eu provavelmente já mudei de cidade, de casa, de escola e de faculdade mais do que muita gente muda ao longo de uma vida toda. E acreditem, isso não fez com que essas mudanças fossem mais fáceis e nem me ensinou a fórmula mágica de como manter o contato com as pessoas que conheci em cada canto da minha vida. Lembro de uma das primeiras decepções relacionadas a distância quando mudei com a minha família de Bauru aqui pra Campinas. Eu tinha uma amiga que morava no mesmo prédio e antes de mudar peguei o número do telefone dela pra tentar manter contato. Um mês depois da mudança liguei pra ela, e pra minha surpresa a menina não tava nem um pouco empolgada em conversar comigo. Aé, esqueci de dizer que nós tínhamos 7 anos, acho que não tem muito papo mesmo entre duas crianças que não compartilhavam mais da mesma realidade.

As múltiplas mudanças pelas quais passei na vida me ensinaram sim uma coisa, a entender que certos vínculos são mais frágeis do que outros, e que as vezes a rotina maluca e a vida em si acabam por afastar as pessoas. O que me impressiona não são as amizades que pareciam eternas e que acabam minguando, o que me intriga são as que permanecem a pesar dos diferentes caminhos que cada uma das parte tomou.

Conversando com algumas amigas sobre o assunto, eu percebi que é muito fácil ser amiga de quem está obrigatoriamente inserida na sua rotina, seja porque trabalha do seu lado, ou porque é namorada do seu melhor amigo, ou porque faz aula de ponto cruz com você. Quero ver manter a amizade com a colega da faculdade que mudou pro Marrocos, aí a coisa complica. E foi ai que eu entendi o que é essa força que determina quais são as amizades duradouras: é o esforço que ambas as partes estão dispostas a fazer pra manter aquele vínculo que já não é mais sustentado pela conveniência da proximidade.

É pegar o telefone pra contar uma novidade, é viajar pra fazer uma visita, é até mesmo a mensagem rápida pelo Facebook que mantém esses laços ativos. Pode parecer fácil, mas no caos do cotidiano até mesmo essas pequenas ações são postas de lado em nome de ações mais urgente. Dá trabalho, requer sair da zona de conforme pelo simples prazer de matar aquela saudade.

Não digo que são culpados aqueles que acabam falhando nessa esforço de manter essa relação, a vida é foda mesmo, e infelizmente as prioridades mudam e muitas vezes não conseguimos manter o contato com todos aqueles que em algum momento compartilharam com a gente desse vínculo. Eu mesma sei que perdi a oportunidade de conservar amigos por relapso da minha parte inúmeras vezes ao longos dos anos.

Mas nessas horas eu prefiro pensar em todas as amizades que eu tive sucesso em manter ao longo da vida, apesar dos contratempos e das adversidades. Porque quando se tira a a conveniência do convívio, tudo o que resta é a amizade em si.


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